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A importância do cuidado ao consumir informações sobre saúde mental nas redes sociais

  • Foto do escritor: Selma Bellini
    Selma Bellini
  • 24 de jul. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 6 de jun. de 2024

No ano passado, a terceira maior anunciante no Tik Tok foi a Cerebral Inc, startup que oferece ferramentas virtuais para saúde mental, incluindo prescrição de medicamento. Apenas Amazon e HBO gastaram mais em anúncio que a Cerebral no Tik tok. Isso quer dizer algo, não? Também no ano passado, a empresa começou a ser investigada nos EUA por prescrições indiscriminadas de medicamentos para tratamento de déficit de atenção, anfetaminas que podem causar dependência e que exigem muito cuidado. Eles então pararam com as prescrições.


Há alguns meses, a Cerebral admitiu vazamento de dados de mais de 3 milhões de pacientes para Google, Meta (Facebook e Instagram) e Tik Tok, incluindo respostas que as pessoas forneciam para os questionários sobre sua saúde mental, ou seja, dados extremamente sensíveis e íntimos sobre emoções, medos e queixas que foram alimentar os algoritmos dessas plataformas e o infinito feed de posts sobre temas como depressão, ansiedade, stress, déficit de atenção, transtorno bipolar, entre outros.


A enxurrada de informações sobre saúde mental nas redes sociais é uma via dupla. Há o benefício de estarmos falando disse de forma mais aberta e isso leva pessoas a buscarem ajuda profissional séria. Por outro lado, isso alimenta o negócio da própria plataforma e, como sabemos, o alimento dos algoritmos somos nós mesmos, nossa atenção e nosso cartão de crédito.


Já virou até meme a ideia de que se você ficar 30 minutos no feed do tik tok você vai se diagnosticar como alguém que tem depressão, com episódios de ansiedade, certamente com déficit de atenção, possivelmente bipolar, vivendo com stress elevado e se relacionando exclusivamente com pessoas narcisistas. Deixando a piada do meme de lado, o cenário é quase esse mesmo e praticamente todos sabemos que se você der like em algum post sobre saúde mental, seu feed vai ser inundado com informações sobre diagnósticos deste ou daquele transtorno ou síndrome e este é um cenário sem nenhum tipo de fiscalização, onde o conteúdo de profissionais se mistura com influenciadores que não estudam o tema ou vendedores de soluções mágicas das mais variadas possíveis. Para empresas como a Cerebral Inc é um ótimo negócio ficar martelando informações assim na cabeça das pessoas, transformando situações e emoções que fazem parte da vida em transtornos, síndromes, etc… É muito fácil, por exemplo, achar “testes” de depressão, ansiedade e stress no Tik Tok e os usuários compartilham seus resultados abertamente, com uma musiquinha de fundo, dizendo que o teste deu que eles têm, por exemplo, depressão severa. Existe até uma hashtag #testedadepressao e os posts dela acumulam mais de 12 milhões de visualizações. Vale mencionar que quase 40% do público do Tik Tok tem entre 18 e 24 anos.


A Cerebral Inc sabe de tudo isso, daí seu investimento de quase 14 milhões de dólares no Tik Tok no ano passado. Repetindo: a terceira maior assinante do Tik tok. E ela não é a única, nossos dados de saúde mental estão por aí de outras formas e isso alimenta os algoritmos das redes sociais.


Que estejamos falando de ansiedade, depressão e tanto mais de forma mais aberta é ótimo, mas é preciso muito, muito cuidado ao consumir conteúdo de saúde mental nas redes sociais. Procure se certificar de que o conteúdo foi produzido por um profissional, por alguém que realmente estuda o assunto, que apresenta fontes confiáveis e que discute o tema com profundidade e, principalmente, saiba que cada caso precisa ser discutido individualmente com um profissional.


Selma Bellini

Psicóloga

CRP 06-155290


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